O Roteiro Engessado do Amor: Por Que o Mainstream Nos Deixa no Meio do Caminho
Oi, amiga de jornada! Você já se pegou pensando se existe algo de errado com você por não se encaixar nos moldes de como relacionamentos reais são mostrados na TV, nos filmes, ou até mesmo nas conversas do dia a dia? Se sim, relaxa, você não está sozinha nessa. Vivemos em um mundo onde o amor e a sexualidade são temas que pipocam por todo lado, da música ao reality show. Mas, por trás dessa enxurrada de informações, existe uma narrativa “oficial” — o tal do mainstream — que, convenhamos, mais esconde do que revela. E essa “escondidinha” das nuances históricas e culturais do amor e da sexualidade acaba nos deixando com mais dúvidas do que respostas sobre como relacionamentos reais funcionam.
No meu trabalho, e imagino que no seu também, é muito comum que as pessoas cheguem com um nó na garganta, achando que suas angústias em relação ao amor e sexualidade são defeitos de fabricação. Mas, quando a gente puxa o fio da meada, percebemos que essas angústias têm uma raiz coletiva: a força dos discursos sociais que nos ditam como devemos desejar, amar e nos relacionar. É sobre como relacionamentos reais são construídos, e não sobre seguir um roteiro.
O discurso mainstream — aquele que domina a mídia, a cultura e até as instituições — adora servir uma versão para lá de simplificada da sexualidade e do amor. É tipo um fast food: rápido, prático, mas que ignora completamente a complexidade e as múltiplas formas dessas experiências. Ao fazer isso, ele não só apaga nuances importantes da história, como também limita o nosso próprio universo de possibilidades. E isso nos impede de viver como relacionamentos reais podem ser.
A Cartilha da “Normalidade”: Desvendando o Que Nos Impõem
Você já deve ter percebido que grande parte dos modelos afetivos e sexuais que a gente aprende desde criancinha vêm com um manual de instruções bem claro. Basicamente, ele pressupõe que:
- relações “normais” são heterossexuais, monogâmicas e, claro, devem durar para sempre, tipo conto de fadas;
- o desejo segue uma linha reta, previsível e sem desvios, como um trem em trilhos;
- existe um “caminho ideal” a ser trilhado: namoro, depois casamento e, finalmente, os filhos. É como um roteiro de filme que a gente é obrigado a seguir.
Essa narrativa, além de ignorar a diversidade histórica e cultural da sexualidade humana, ainda por cima joga um peso nas costas de quem não se encaixa nesse figurino. É como tentar calçar um sapato que não serve: dói, aperta e deixa bolhas. E aí, a gente se pergunta: “Será que eu estou fazendo algo errado?”. A verdade é que o erro não está em você, mas sim no roteiro que nos foi imposto e que não reconhece como relacionamentos reais se constroem.
Heterossexualidade: Uma Construção Histórica, Não um Destino
Sabe aquela ideia de que o desejo entre homem e mulher é a base natural e universal das relações? Pois é, grande parte do que a gente consome — em filmes, novelas, propagandas — parte desse princípio. Mas, por trás dessa obviedade aparente, existe um dado importante que fica escondido: a heterossexualidade é uma construção histórica e, muitas vezes, uma imposição social. Não é uma lei da natureza, e sim um caminho que nos foi ensinado sobre como relacionamentos reais deveriam ser.
Pense comigo: culturas indígenas, africanas e orientais já reconheciam diversas expressões de gênero e afetividade muito, muito antes do colonialismo chegar e impor a sua moral. Reduzir a sexualidade à norma hétero, cisgênero e monogâmica é como tentar enfiar um oceano numa garrafa pet. É ignorar um mundo de possibilidades que já foram vividas, celebradas e que nos mostram como relacionamentos reais são diversos.
Amor Romântico: A Armadilha Dourada que Pode Sufocar
No nosso imaginário social, o amor romântico é vendido como o ápice da realização subjetiva. É o prêmio máximo, o pote de ouro no final do arco-íris. Mas essa idealização, por mais linda que pareça à primeira vista, vem com uma série de exigências que podem sufocar:
- exige exclusividade, fusão e eternidade, como se a gente virasse uma única pessoa, sem espaço para a individualidade;
- deslegitima outras formas de vínculo e afeto, como amizades profundas, relações abertas ou vínculos não-sexuais, como se só o amor romântico importasse de verdade;
- muitas vezes, reforça dinâmicas de controle, dependência e autoanulação, disfarçadas de “provas de amor”, quando, na verdade, são um convite para a asfixia.
Na prática, a gente vê os efeitos dessa expectativa na clínica: frustrações recorrentes, autoestima lá embaixo, relações tóxicas que parecem grudar como chiclete no cabelo, medo da solidão e uma baita dificuldade em nomear e abraçar formas alternativas de amar. É o contrário de como relacionamentos reais florescem.
Silêncios que Gritam: As Dores da Sexualidade Não Dita
A sexualidade, essa experiência tão visceral e relacional, ainda é um terreno pantanoso, cheio de silêncios que reverberam. É como se houvesse uma “lei do silêncio” sobre certos aspectos, e isso causa um sofrimento desnecessário. Pense bem:
- O prazer feminino e a autonomia sexual ainda carregam um fardo pesado de culpa, como se fosse algo sujo ou proibido. Por que o prazer tem que ser um segredo?
- Corpos fora da norma (trans, gordos, racializados, com deficiência) são empurrados para a margem da sociedade ou, pior, hipersexualizados, reduzidos a meros objetos de desejo ou aversão. Onde está o respeito pela diversidade de como relacionamentos reais são vividos por pessoas diversas?
- Relações LGBTQIA+ continuam sendo invisibilizadas, quando não patologizadas, como se fossem um erro ou uma doença a ser curada. É como se a sociedade dissesse: “Você pode amar, caso seja do jeito que eu aprovo”. Isso não é como relacionamentos reais deveriam ser tratados.
Enquanto o discurso dominante nos oferece respostas prontas e engessadas, o espaço clínico, e o seu blog, se propõem a acolher as perguntas. Acolher a dúvida, a diferença, a ruptura. E, sobretudo, validar vivências que fogem da norma sem jogar a culpa nas costas de quem as vive. Falar de sexualidade e de amor é falar de histórias, de cultura, de política — e também de desejo, de dor, de potência. Abrir espaço para essa escuta é um gesto clínico e ético, e nos permite entender como relacionamentos reais se desenvolvem.
Ampliando Horizontes: A Verdadeira Diversidade de Amor e Desejo
Você já parou para pensar que o amor e o desejo são como um rio? Podem ter mil caminhos, cachoeiras, corredeiras e até mesmo se dividir em vários braços. Mas o mainstream insiste em nos mostrar somente um pedacinho, a parte mais calma e linear. É como se ele dissesse: “Olhe, o rio só pode ser assim, reto e calmo.” E a gente, na nossa boa-fé, compra a ideia. Mas a verdade é que, quando olhamos para a história e para outras culturas, o que vemos é um verdadeiro oceano de possibilidades. Como relacionamentos reais podem ser muito mais expansivos.
Modelos de Amor Além do Romance de Novela
Vamos desmistificar a ideia de que existe um único jeito de amar. A humanidade, em sua rica tapeçaria cultural, sempre inventou e reinventou formas de se conectar.
Referência | Modelo de Relacionamento | Como Comunicar |
Grã-Bretanha Vitoriana | Reconhecimento de dois-espíritos” e outros gêneros que transcendem o binário masculino/feminino, permitindo expressar o amor de diversas formas. | Relações intensas, não necessariamente sexuais, entre pessoas do mesmo sexo, celebradas publicamente. |
Grécia Antiga | Homossexualidade e Pederastia | Múltiplas parcerias românticas ou sexuais com o consentimento e conhecimento de todos os envolvidos. |
Várias Culturas Indígenas | Gêneros Não Binários | Reconhecimento de “dois-espíritos” e outros gêneros que transcendem o binário masculino/feminino, permitindo expressar o amor de diversas formas. |
Poliamor Contemporâneo | Relações Consensualmente Não-Monogâmicas | Múltiplas parcerias românticas ou sexuais com o consentimento e conhecimento de todos os envolvidos. |
É importante entender que esses modelos não são “novidades” ou “modismos”, mas sim reaparecimentos de formas de se relacionar que sempre existiram, mas foram empurradas para debaixo do tapete pela narrativa dominante. Compreender isso nos ajuda a ver como relacionamentos reais são cheios de opções.
Desejo: Um GPS Sem Rota Fixa
O discurso mainstream adora nos convencer de que o desejo é um GPS com uma rota fixa: você nasce, sente atração pelo sexo oposto, se casa, tem filhos, e pronto, fim da linha. Mas a realidade é que o desejo é muito mais um GPS com a opção “explorar” sempre ativada. Ele pode mudar de direção, ter desvios, curvas inesperadas e até mesmo levar a lugares que a gente nem imaginava.
A ideia de que o desejo deve ser linear e permanente é uma das maiores fontes de frustração. Afinal, a vida é movimento! É como a Lua, que passa por fases, cheia, minguante, nova. O desejo também tem suas fases, suas intensidades, suas pausas. E tudo bem! Aceitar essa fluidez é um passo importante para uma relação mais autêntica conosco mesma e com o outro. É essencial para entender como relacionamentos reais se adaptam.
Corpo, Desejo e Representatividade: Quem Cabe na Foto?
Quando a gente fala de sexualidade e desejo, o corpo é o nosso palco. Mas o palco do mainstream é bem pequeno e restritivo. Ele só parece ter espaço para corpos em um padrão estético eurocêntrico, magro, jovem e sem deficiências. E o que acontece com todos os outros corpos? São invisibilizados, marginalizados ou, pior, transformados em caricaturas. Não é assim que se constrói a narrativa de como relacionamentos reais são diversos.
A Tirania do “Corpo Ideal” e Seus Efeitos Colaterais
Você já parou para pensar na pressão que sofremos para ter o “corpo ideal”? Essa pressão não é só sobre estética, mas também sobre desejo e sexualidade. Se o seu corpo não se encaixa nesse padrão, a mensagem subliminar é que você não é desejável, que não merece prazer, que não tem direito a uma sexualidade plena. Isso é uma violência silenciosa, mas que deixa marcas profundas.
- Corpos racializados: São frequentemente estereotipados, hipersexualizados ou dessexualizados, negando-lhes a complexidade e a dignidade de sua própria experiência sexual.
- Corpos gordos: São alvo de gordofobia, associados à falta de disciplina e saúde, e frequentemente tidos como “indesejáveis” no imaginário erótico.
- Corpos trans sofrem com a transfobia e a disforia de gênero, sendo muitas vezes invalidados em sua identidade e sexualidade, negando a eles a possibilidade de viver como relacionamentos reais significam.
- Corpos com deficiência: São frequentemente infantilizados ou dessexualizados, ignorando sua capacidade de sentir desejo e ter uma vida sexual ativa e satisfatória.
É hora de quebrar esses espelhos distorcidos e celebrar a beleza e a diversidade de todos os corpos. Porque o desejo não tem um padrão, ele é tão plural quanto a humanidade. E como relacionamentos reais se mostram é na inclusão.
O Prazer Feminino: Um Tesouro (ainda) Escondido
Ah, o prazer feminino! Por séculos, foi um tema tabu, envolto em mistério, culpa e silêncio. A narrativa dominante, infelizmente, ainda perpetua a ideia de que o prazer feminino é secundário, menos importante ou até mesmo ligado à reprodução. É como se o clitóris, esse órgão maravilhoso dedicado exclusivamente ao prazer, fosse um acessório esquecido.
É vital que as mulheres se apropriem de seus corpos, de seus desejos e de seus prazeres. Que desmistifiquem a ideia de que o prazer é algo a ser “concedido” pelo parceiro, e sim algo a ser explorado, descoberto e celebrado. A autonomia sexual feminina é um ato revolucionário, um grito de liberdade em um mundo que ainda tenta controlar os corpos das mulheres. E quando a mulher se apropria do seu prazer, as portas se abrem para como relacionamentos reais são mais satisfatórios.
Construindo Pontes, Não Muros: Relações Saudáveis e Autênticas
Se o mainstream nos oferece um mapa com somente uma rua, a gente precisa começar a desenhar os nossos próprios caminhos. O trabalho é desconstruir as ideias limitantes e construir novas formas de se relacionar, mais autênticas, mais saudáveis e mais felizes. E para isso, a gente precisa de ferramentas.
Comunicação: A Chave Mestra para Conexões Reais
A comunicação é o pilar de qualquer relacionamento saudável. Mas não é nenhum comunicação, não. É aquela que escuta de verdade, que fala com honestidade, que abre espaço para a vulnerabilidade.
- Escuta Ativa: Não é só ouvir as palavras, mas também as entrelinhas, os silêncios, os sentimentos por trás do que é dito. É estar presente inteiramente.
- Expressão Clara: Dizer o que sente, pensando, desejando, sem rodeios ou joguinhos. É ser transparente, mesmo que doa.
- Negociação e Acordo: relacionamentos são feitos de acordos, de “e se…”, de “vamos tentar…”. Não é sobre um ter razão, mas sobre construir juntos.
Autoconhecimento: O Primeiro Passo para o Outro
Antes de se relacionar com o outro, a gente precisa se relacionar conosco mesma. E isso significa mergulhar fundo no autoconhecimento. Quem sou eu? O que eu desejo? O que me faz feliz? O que me limita?
- Entender Suas Feridas: Todos temos feridas emocionais, traumas do passado que podem influenciar como nos relacionamos. Olhar para elas com carinho e buscar cura é fundamental.
- Definir Seus Limites: Conhecer seus limites é se proteger. É dizer “não” quando necessário, é saber o que você aceita e o que não aceita em uma relação.
- Cultivar Seu Autovalor: Quando você se valoriza, você atrai relacionamentos que também te valorizam. É um ciclo virtuoso.
Com essa base, a gente se torna mais forte para criar como relacionamentos reais e significativos.
Perguntas Frequentes (FAQs) sobre Amor e Sexualidade
O que significa “discurso mainstream” em relação a amor e sexualidade?
O “discurso mainstream” refere-se às narrativas e ideias dominantes sobre amor e sexualidade amplamente divulgadas pela mídia, cultura pop e instituições. Ele tende a apresentar versões simplificadas e muitas vezes limitantes, ignorando a diversidade histórica e cultural dessas experiências.
A heterossexualidade é realmente uma construção social?
Sim, a heterossexualidade, como a conhecemos hoje e como norma imposta, é considerada uma construção histórica e social. Embora a atração entre gêneros diferentes seja uma experiência humana comum, a ideia de que ela é a única forma “natural” ou “correta” de se relacionar é culturalmente aprendida e reforçada.
O que são “amizades românticas” e elas ainda existem?
“Amizades românticas” eram relações intensas e profundas entre pessoas, frequentemente do mesmo sexo, que podiam incluir grande afeto e intimidade emocional, mas não necessariamente sexo. Elas eram comuns em algumas culturas, como na Grã-Bretanha Vitoriana. Atualmente, embora o termo não seja tão usado, a ideia de amizades profundas com um forte componente emocional e de apoio continua a existir e é muito valiosa.
Como a idealização do amor romântico pode ser prejudicial?
A idealização do amor romântico pode ser prejudicial porque frequentemente exige exclusividade, fusão de identidades e eternidade, deslegitimando outras formas de afeto. Ela pode levar a frustrações, baixa autoestima, relações tóxicas e reforçar dinâmicas de controle e dependência, disfarçadas de “provas de amor”.
Por que corpos fora do padrão são marginalizados na discussão sobre sexualidade?
Corpos fora do padrão (trans, gordos, racializados, com deficiência) são marginalizados porque o discurso dominante impõe um “corpo ideal” estreito. Isso leva à invisibilidade, estereotipagem, hiper sexualização ou dessexualização desses corpos, negando-lhes a complexidade de sua experiência e o direito à sexualidade plena. Isso impede que se compreenda como relacionamentos reais podem existir para todos.
Como posso começar a desconstruir essas narrativas em minha própria vida?
Você pode começar a desconstruir essas narrativas buscando informações diversas sobre sexualidade e relacionamentos, questionando as “verdades” que aprendeu, conversando abertamente com pessoas de diferentes experiências, e, se sentir necessidade, buscando apoio profissional para explorar suas próprias vivências e desejos. A reflexão e o autoconhecimento são seus maiores aliados.
O Caminho é a Gente Que Faz: Construindo Sua Própria História de Amor (e Desejo!)
Piracicaba, 7 de julho de 2025.
Percebeu como o tal do discurso mainstream é um verdadeiro “Cavalo de Troia”, cheio de ideias que parecem boas, mas que podem nos aprisionar? Ele nos vende um pacote fechado sobre como relacionamentos reais devem ser, mas a vida, minha querida, é um livro aberto, com páginas em branco para a gente escrever a nossa própria história.
Se você está buscando ter um relacionamento saudável, sem precisar de truques de manipulação ou de um roteiro que não te cabe, o primeiro passo é este: questionar. Questionar o que te disseram, o que te mostraram, o que você aprendeu. A evolução começa quando a gente se permite duvidar e procurar as nossas próprias respostas. É como olhar para um mapa e perceber que existem muitos outros caminhos além daquele que o GPS sugeriu primeiro.
A jornada do autoconhecimento é a sua bússola nessa aventura. Ao entender quem você é, o que te move, o que te faz feliz e o que te incomoda, você se torna a diretora da própria vida amorosa. E, acredite, não há nada mais atraente do que alguém que sabe quem é e o que quer.
Então, te convido a um mergulho profundo. Explore as suas verdades, desapegue das expectativas alheias e permita-se viver o amor e a sexualidade de uma forma que faça sentido para você. Porque o verdadeiro amor não está no roteiro pronto, mas na coragem de escrever a sua própria história.
Fonte: Sexóloga Ísis Bueno, para agendar uma consulta, acesse: www.vidaconsciente.com.br/quem-somos
Texto: Cibele Bergamo é diretora de comunicação independente, fotógrafa profissional e escritora. No Vida Consciente, ela escreve artigos que traduzem o conhecimento de ponta de profissionais, como nutricionistas especializados, para a sua realidade. Com sua paixão por histórias e saúde mental, Cibele guia mulheres em uma jornada de autoconhecimento e relacionamentos saudáveis, transformando informações valiosas em conteúdo claro e inspirador.
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